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  • Foto do escritorAndré Silveira

A exigência da alternativa

Está na moda pedir soluções à oposição. Aponta-se-lhe o dedo como se fosse quem efectivamente governa. Exige-se aos partidos que não governam que mostrem as soluções para os problemas criados por quem foi eleito com apoio alargado do povo, e, no caso dos Açores, há décadas. Nada mais normal se também o exigissem, em grau igual ou superior, a quem nos governa vai para quase um quarto de século. Pode-se aceitar que seja o desespero de quem quer ver mudança, totalmente legítimo é certo, até porque mudança é precisamente do que os Açores precisam.

Sente-se que os Açorianos estão ávidos de soluções, o que apenas demonstra que há muito problema a necessitar delas. O utópico paraíso regional do "superavit" é uma fantasia longínqua criada pela propaganda, e os Açorianos não são tolos, sentem-no no dia a dia. A "via açoriana" é um fracasso que agora desmorona-se ao sabor das justificações, mais ou menos absurdas, de quem finge não comandar o destino de nós todos há mais de 20 anos.


Dizer que a um mau governo corresponde uma oposição débil é um lugar comum, mas que a história tem vindo a comprovar vezes sem conta. O exemplo dos Açores pode mesmo ser um caso de estudo disso mesmo. Nas últimas décadas a oposição, muito em particular o seu maior partido, o meu, optou por não o ser. Optou por uma acção invisível, amorfa, e que aqui e ali revelou incapacidade. Teve como recompensa nunca se conseguir afirmar como uma alternativa credível e foi, quase sempre, fortemente penalizada nas urnas, salvando-se uma ou outra honrosa excepção.


Apesar disso tudo, obviamente que é totalmente legítimo e natural pedir-se que quem quer ser alternativa que o demonstre. E os principais líderes da oposição têm de começar a explicar o que, e como, vão fazer para inverter a herança deste actual "regime". Essa tarefa é muito mais complicada do que se possa imaginar. Todos devemos ter a noção de que o iceberg de tantos anos de hegemonia de um só partido é muito difícil de se conhecer em toda a sua dimensão e complexidade. Ter de apresentar soluções para problemas sobre os quais tem-se apenas parte da informação é uma tarefa difícil e muito arriscada. Mesmo assim, terá de ser feito de forma responsável e, se calhar, correndo mesmo o risco de nem sempre acertar, sabendo porém que mais vale isso do que o que aconteceu até agora, e arriscarmo-nos a continuar tudo na mesma. Quase ninguém quer isso, estou convicto.


A alternativa constrói-se com acções, palavras e, porque não, com algumas omissões e será tanto melhor quanto mais abrangente, discutida e testada face ao contraditório. Que se debatam soluções ousadas sem receio de não agradar a todos. A oposição só poderá ser alternativa se for diferente. Diferente para melhor nas suas soluções, nas pessoas e no modo de agir, até mesmo no modo de comunicar. Na verdade, muito do que os Açorianos procuram é algo, ou alguém credível, que lhes dê esperança de um caminho diferente e que sejam ouvidos e envolvidos na edificação desse percurso.


Em Outubro de 2020 os Açorianos serão os júris da performance deste governo e da herança de mais de 20 anos de domínio do Partido Socialista. Seremos nós a decidir se estamos bem como estamos ou se arriscamos mudar, nem que seja apenas por mudar. Na verdade, a decisão acaba até por ser bastante simples, e o que não falta é informação para um veredicto consciente. No entanto, até lá o mundo não pára. Exijam-se soluções a quem foi dada a confiança dos votos por larga maioria, e exija-se à oposição que explique os seus programas, exija-se que os defendam enfrentando o contraditório sem complexos. A mudança depende de nós.

André Silveira

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