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  • Foto do escritorAndré Silveira

SATA INTERNACIONAL PRIMEIRO SEMESTRE 2022 COM PREJUÍZO DE: 47.688.012,87€ (Sim não é um engano)

Parte I

O melhor semestre de sempre afinal foi um dos piores de sempre, senão mesmo o pior.

A empresa, apesar de apresentar a maior faturação de sempre num semestre, consegue uma performance pior do que em igual período de 2021, onde faturou quase um terço. Como se consegue este milagre? Vamos a ver:


Como já escrevi diversas vezes, a SATA Internacional é uma empresa estruturalmente inviável. Quer isso dizer que até pode faturar o triplo, como aconteceu neste primeiro trimestre, e continua sem rentabilidade, ou pior, os seus prejuízos agravam-se. Sem entrar em pormenores, nem em apontar de dedos, tal deve-se a uma estrutura de custos que por um lado é características do sector, mas também em particular no caso da SATA, às opções políticas que sempre balizaram as opções de gestão da empresa. Quer isso dizer, que a esta altura do campeonato, não há administração que salve a empresa sem um forte murro na mesa. Ora como sabemos, esta administração é herdada do principal responsável político da situação, que durante 20 anos teve em sua secretária o dossier SATA, e como tal dificilmente poderia ser a tal do murro na mesa. Afinal de contas, umas férias nos Açores, com um bom ordenado, com potencial de se lançar para outros voos, sem grandes chatices porque os políticos assinaram vários cheques em branco e a opinião pública está catatónica, não é algo de rejeitar assim de qualquer maneira. Tudo muito bem, mas tentar passar os Açorianos como tolos, é inaceitável e deveria dar direito só por si a um bilhete de volta para o retângulo.


A empresa, que está a ser reestruturada com a aprovação da CE, mas cujo o respetivo guião não é público, conseguiu a proeza de aumentar os gastos de pessoal, sabendo-se que esse é um dos pesos que deve ser cortado para minimizar as perdas. É certo que operação aumentou muito, mas como tal seria expectável que a produtividade também bastante. Ora nem de perto, uma coisa acompanhou outra. Este fator não depende da conjuntura, e portanto é gestão pura e dura. Não se sabe também se é aqui que estão alocados os custos de rescisões amigáveis, algumas delas milionárias, que também deverão estar a pesar.

Os FSE’s aumentaram de 27 milhões para 65 milhões(!) acompanhando o forte aumento da atividade. Já sabemos que o Sr. CEO vai dizer que isto deve-se ao aumento do preço dos combustíveis, mas a explicação que tem de dar não é assim tão simples.

Primeiro porque o aumento de preço ocorreu essencialmente no segundo trimestre, e se olharmos para a evolução do índex do jet fuel no semestre, vemos um aumento que não deve ultrapassar em média os 50%. Ora o que o Sr. CEO vai ter de explicar é o aumento superior a 140%. Parte será efetivamente aumento do preço, mas parte será aumento do consumo das aeronaves, dado que voaram mais como é mais ou menos pacífico provar. Quando o SR. CEO nos veio enganar com as suas perspetivas após se saberem as contas do primeiro trimestre 2022, já tal era mais do que evidente, como era quando veio dizer que o primeiro semestre seria o melhor de sempre. (na altura previ quase 40 milhões de resultados negativos no primeiro semestre de 2020. Errei, fui demasiado optimista). Mentiu, nessa altura, e não foi desmentido por ninguém, quando era por demais evidente que a desculpa do preço do combustível era propaganda, nada mais. O governo assinou por baixo, assumindo assim a sua responsabilidade. Teve todas as oportunidades para fazer uma inflexão na estratégia, como teve agora vários meses já com as contas do semestre nas mãos. Optou por esperar, adiar e empurrar para frente o problema.

O rei vai nu na SATA, e aos 300 milhões de herança deixada por Vasco Cordeiro, que deveria ser julgado por crimes contra o interesse público, juntam-se agora mais de 100 já com este governo em funções. O custo total de reestruturação da SATA estima-se que nunca será inferior a 500 milhões(1), e pode atingir só Deus sabe quanto, dado que tal nem depende só do GRA. Quanto mais se continua a empurrar o problema para a frente, maior é o número, como é fácil de constatar com as contas dos últimos anos. Também é curioso ver que a pandemia, que foi usada como o principal argumento para uma performance catastrófica em 2021, afinal até foi melhor do que 2022. Agora a culpa é do preço de combustível.


Virá também a desculpa dos custos financeiros. Os juros suportados realmente tiveram um acréscimo de cerca de 5 milhões. Pergunta: quando é que estes valores irão descer? O pano de reestruturação não contempla a assunção de passivos por parte do estado de modo a reduzir também os custos financeiros? A pergunta não é retórica, dado que de facto a aprovação do plano de reestruturação é recente, e como a opção foi aguardar até que terceiros desmandassem no que é um problema só nosso, mas que por vezes deu jeito repartir pelos senhores mauzões de Bruxelas, não se sabe de facto quando o total de crédito bancário irá se reduzir com impacto nas contas.


Seria importante também saber, nas rotas onde as tarifas são co-suportadas pelos estado, as do mercado liberalizado para Lisboa e Porto, qual o valor do ticket médio vs. a concorrência. Certamente teríamos todos uma surpresa enorme. Basta um breve pesquisa online para se ver a disparidade de preços com as concorrência. Obrigado os Açorianos a pagarem bilhetes acima do preço de mercado, mesmo que depois ressarcidos desse diferencial, é imoral, errado, e socialmente injusto. Tem de acabar. Esta via encaixa mais uns bons milhões nas vendas através de subsidiação secundária. Imagine-se se essa componente não existisse. Teríamos os contas ainda piores, sendo que esse valor já é suportado por todos nós.


É verdade que a responsabilidade está mais do que identificada, até os Açorianos já a julgaram nas urnas dando um passe à direita para formar governo, mas o tempo vai passando, e o reformista José Manuel Bolieiro, que nomeou um secretário, que quando era comentador tinha ideias firmes e públicas acerca da SATA, mas que optou por manter a estratégia idealizada por quem destruiu a empresa ao longo de 20 anos de desmandos e caprichos temperados com muita incompetência, nunca reformou nada na vida, aliás nunca fez nada a não ser política, e, como qualquer “bom” político português, rege-se pelo seu futuro e dos interesses próximos de si. Sempre foi assim, e continuará a ser. Há quem esteja surpreso, não é o meu caso. Tive dúvidas, confesso, mas foi um momento de wishfull thinking irracional. Já apertei mais o silício para me penitenciar.

Caberá ao atual secretário, cujo o estado de graça está-se a esgotar, fazer diferente. O Dr. Duarte Freitas terá de ter a coragem de dar o tal murro na mesa, caso contrário a muito breve trecho passará para a lista dos co-responsáveis. Fui muito crítico do seu papel como presidente do PSD/Açores, mas sou também capaz de reconhecer a sua capacidade técnica e principalmente política. A seu lado tem a Dra. Berta Cabral, que conhece demasiado bem a aérea regional. Se esta equipa não será capaz de inverter este que é o principal garrote ao desenvolvimento dos Açores, dado o peso financeiro que tem e terá no futuro, Deus nos ajude, porque a lista de candidatos está mesmo a chegar ao fim, e daqui em diante só pode vir mesmo pior.


A solução, já o disse também o Sr. CEO em jeito de candidatura de emprego, passa pela privatização ou pior. Este cenário apresenta os seus próprios desafios, mas de facto é o único politicamente suportável. Sabe-se que a CE o exige, não mais porém do que exige a realidade dos fatos. Pasme-se que o PS/A ainda acha que o estado deverá manter a maioria do capital, mesmo com o grande exemplo do que fez António Costa na TAP, e com o seu próprio exemplo local. O pior, é que esta gente pode muito bem voltar a ser governo muito em breve. Medo.

A privatização assenta no pressuposto de que existirão no mercado “privatizantes”. Ora o valor da Internacional é menos do que zero. Vale pelas posições que são rentáveis e vale pela Air Açores, desde que se garanta o monopólio e ultra subsidiação. Ou seja, vamos ter de pagar para que um privado assuma uma empresa falida e sem viabilidade. É muito provável que mesmo após o estado assumir boa parte do passivo, senão todo, haverá exigências de garantias futuras, que potencialmente colocam o valor de toda a operação acima dos 500 milhões, mas que facilmente poderão ser mais, e no caso de não se fazer a privatização serão certamente muito mais.


É certo que para o Açoriano comum, tudo isto lhe diz pouco. Nada mais normal. Mas espera-se mais das elites, cuja responsabilidade é evidente. Ora nesse grupo também estão incluídos os partidos da oposição. Com a exceção da IL, a oposição pouco tem dito sobre o assunto. Excluo desta afirmação o PS/A, por razões evidentes. O PS/A em relação a este assunto deverá dizer zero. Não têm capital moral, político ou, em alguns casos até pessoal, para afirmar nada. Resta-lhes pintar a cara de preto e esperar que os Açorianos os perdoem, o que até nem será difícil. Mesmo a exigência da IL para que a privatização seja feita já, o que é do mais elementar bom senso dado que já vai com um atraso de mais de um década, acaba por ser pouco. Colocar no plano e orçamento a privatização em 2023 está muito longe de garantir o quer que seja, muito menos com esta administração. Por exemplo, seria obrigatório garantir que esta administração sairia já, ou pelo menos com a privatização. Caso contrário será a própria a gerir o seu futuro e a negociar com privados a sua própria manutenção. Tal não é aceitável. O mandato deverá ter data de fim e objetivos claros.


Uma nota acerca das exigências da IL para aprovação do plano e orçamento 2023: A exigência da privatização em 2023 com a do zero crescimento do endividamento da região, podem não ser compatíveis. Ou melhor, podem mas à custa de graves problemas orçamentais que poderão ter impacto na capacidade de execução do PO2030, por exemplo, numa cascata de bloqueios da economia regional, que como se sabe é ultra dependente dessas execuções. Não que tal não seja necessário, mas deverá ser bem explicado aos Açorianos e feito com o seu apoio, e para tal, nada melhor que uma eleições para o referendar.


Participei como primeiro subscritor numa petição que exigia a criação de uma comissão de gestão que liderasse o processo de reestruturação da SATA. Com algum distanciamento agora, consigo ver alguns dos problemas formais que esta solução acarretaria. Mesmo assim, teria sido muito mais do se fez até agora. No entanto, a necessidade de um envolvimento muito abrangente de todas perspetivas do que são os Açores e os Açorianos, é urgente na resolução deste dossier. Só com um acordo que englobe os principais partidos, mas também toda a sociedade civil, será possível que passemos à fase de pagar um problema, sim porque da conta ninguém nos livra, mas que seja um que pare de crescer e que permita olhar para o futuro da RAA. Enquanto este lastro não for controlado, tal é simplesmente impossível.

(Parte II em breve)

André Silveira


(1) As contas são razoavelmente complexas, mas entre responsabilidades futuras, necessidades de renovação da frota, incerteza e outros factores, muito provavelmente e expectativa de 500 milhões é até conservadora.





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