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  • Foto do escritorAndré Silveira

Os erros do Sr. Secretário

Não é segredo que apreciei o desempenho de Clélio Meneses enquanto foi oposição. É pessoa por quem tenho apreço pessoal, e que por mais de uma vez me inspirou com as suas intervenções e escrita. Não tenho qualquer dúvida das suas boa intenções, nem de que é um homem íntegro e com uma capacidade de trabalho impressionante. Sei que assume o seu atual cargo com grande esforço pessoal e profissional. Foi pai muito recentemente e certamente não teria escolhido esta guerra para acompanhar os primeiros meses de vida de seu filho. Quanto a isso não tenho dúvidas. Profissionalmente faz parte da rara minoria daqueles que assumem um cargo político com perca de rendimento, e que o fazem por sentido de missão e por um bem maior.

Dito isto, e sim eu sei que para se ser “um bom menino do PPD” não se pode criticar os seus, e depois do debate na RTP Açores, apraz-me dizer que a coisa não lhe tem corrido nada bem. Abona a seu favor toda a conjuntura, é certo, mas no final foram os seus erros que ditaram tão fraca performance como governante, pelo menos até agora.


O erro da vaidade

Foi porém, a vaidade, que levou ao deslumbre momentâneo da operação de charme a que se chamou vacinação do Corvo. Não contesto o modelo escolhido optando-se por uma vacinação total da ilha, nem seriam algumas centenas de vacinas que fariam a diferença em São Miguel, mas o timing foi o pior possível e o aproveitamento mediático foi um erro descomunal. Na altura era por demais evidente que o problema seria sempre São Miguel. e a mensagem passada foi a de que a prioridade era outra. Em termos de ação de comunicação resultou imensamente bem no Corvo, mas pessimamente junto da larga maioria dos eleitores que colocaram esta coligação no poder.


O erro da falta de humildade

Um secretário regional que se recusa a dialogar com um sector que tutela, que mandou encerrar sem qualquer tipo de fundamentação formal, demonstra que ainda tem muito para andar para se assumir como um governante. Não há qualquer explicação para tal comportamento, a não ser, e talvez por saber que não teria qualquer tipo de racional a medida que aceitou tomar, fugir ao contraditório não se expondo ao ridículo, que acabou por ter de passar quando lhe perguntaram pelas fundamentações cientificas da medidas tomadas. A resposta foi: “a fundamentação existe”, só nunca ninguém a viu. Sabendo que a credibilidade do Sr. Presidente da Comissão de Combate à Pandemia, e as suas tentativas sucessivamente falhadas de adivinhar o futuro, já tiveram melhores dias, talvez fosse altura para assumir que se tomaram medidas sem qualquer tipo de base, e que essas prejudicaram sectores inteiros. Um pedido de desculpas ficava bem, mas porque os negócios não vivem de pedidos de desculpas, é urgente compensar essas atividades. Aliás, é a oportunidade de investir nessas de modo a estejam capacitadas, e capitalizadas, para aproveitar a retoma que se espera, e até resolver alguns problemas estruturais que vêm de há anos derivados da incompetência dos governos passados. Fica a sugestão.


O erro da ingenuidade

Acredito que foi por ingenuidade que o Sr. Secretário se deixou levar pelo sector ultra ortodoxo da coligação, que tem ligações profundas a buracos bem fundos da Igreja, e de onde não vem nada de bom. O radicalismo nunca será algo aceitável. Não o é no que diz respeito a raça, orientação sexual e muito menos quando se trata da religião. Neste caso religião e combate à pandemia, muito pior. José Manuel Bolieiro disse sempre que este seria o governo da onda reformista. Ora bem que poderia por começar por reformar as ligações, não muito claras, a sectores bafientos, e a pessoas bafientas já agora, que sub-repticiamente ganharam grande influência junto deste governo. Ao ponto de ganharem benefícios pessoais e familiares por um lado, e por outro manterem parte do governo refém da minoria.

O Sr. Secretário, certamente não viu nada disto, confiou, e vê agora, até porque entretanto recuou, que não viria nada de bom dessas forças obscuras, muito menos viria para si qualquer capital político. Foi ingénuo. Um bom político tem um plano para o poder e, neste caso, não conseguiu ver que algumas das forças que apoiam o governo, antes de tudo irão cumprir o seu plano. Considere-se avisado.


O erro da agressividade

O Sr. Secretário tem de interiorizar que já não é oposição e que a sua missão é governar. Não deve, nem lhe fica particularmente bem, ter a postura agressiva, por vezes até mesmo truculenta, usando a ironia e adjetivando cidadãos que tutela, não são eles a oposição. Não abona à postura de estadista que deveria ter, e faz transparecer falta de preparação, insegurança e imaturidade política. Salva-se apenas que, tarde e a más horas, recuou em toda a linha. Se tivesse sido verdadeiramente humilde e dialogante, teria ouvido atentamente os sectores, mantido uma postura de diálogo e concertação, e, talvez, a coisa lhe tivesse corrido melhor. Talvez por ingenuidade, em vez disso, deixou-se manobrar pelos interesses obscuros de uma parte da coligação e que mantiveram o incompetente Tato Borges no seu posto, contra tudo e contra todos, até contra o mais elementar bom senso, até ao dia de hoje. Os danos económico-sociais causados à ilha de São Miguel e aos Açores, nunca lhe serão perdoados. Nem a ele, nem ao governo.

André Silveira


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