A Oportunidade perdida?
- André Silveira
- 12 de abr. de 2020
- 2 min de leitura
Estamos em plena guerra contra a Covid-19. Temos o hábito de ir chamando guerra a muita coisa. Tivemos guerras e guerras. Esta, será uma “guerrinha” na pior das hipóteses, mas que terá, porém, um efeito destruidor em milhões de vida por essa Terra a fora. No passado, os acontecimentos disruptivos foram motores de progresso e evolução. Acabámos sempre melhor do que como começámos, e isso sim deve ser motivo de esperança, mesmo que agora o vislumbrar de tal desfecho seja algo apenas privilégio dos otimistas irremediáveis como eu.
A guerra das duas frentes, a da saúde e a da economia, não está livre de sobreposições, dado que ninguém deve acreditar que a economia não terá um impacto profundo na qualidade e robustez dos serviços de saúde no “pós Covid-19”, como em muitas outras perspetivas da vida, ou da qualidade desta. Vamos acabar isto mais pobres, e como sempre, os países, ou regiões, com economias menos robustas, estão particularmente expostos. A pequena dimensão e ultraperiferia dos Açores é na verdade a sua maior força, e quaisquer centenas de milhões resolverão o problema como sempre, desde que haja quem os dê. Foi assim no passado, e será assim no futuro. Somos um problema fácil de resolver, mas se assim o é, talvez seja a oportunidade para fazer diferente.
O manancial de dinheiro que se prevê chegar à Região será mais um take desta autonomia que padece de fadiga de meia idade. Como bons portugueses sabemos muito bem o que se passou no passado com a fartura de financiamento: muitos jipes, muitos equipamentos absurdos, muita fita para cortar e muito pouco investimento em atividades realmente competitivas e geradoras de riqueza. O resultado é amplamente conhecido: os Açores produzem pouco e o que produzem está em declínio, e se no caso do leite é um declínio mais do que previsível, já no turismo, a paragem foi abrupta, completamente inesperada e demorará anos a recuperar. Será uma espécie de começar do zero sem ser realmente do zero, mas será a oportunidade de fazer diferente e melhor. No que diz respeito ao turismo será a segunda oportunidade, e é fundamental que esta não seja mais uma perdida.
Nunca, desde a fundação desta autonomia, a qualidade de quem nos lidera será tão decisiva. Precisamos de verdadeira liderança visionária que se liberte de amarras eleitorais e seja capaz de ver o caminho por entre esta calamidade, que felizmente até agora, nos Açores, tem sido muito mais económica do que de perda de vidas. Um regime com mais de vinte anos dificilmente será capaz de se reinventar, e aqui, regime no sentido de todo o sistema político dos Açores com governo e oposição. É o momento de todos se envolverem não deixando em mão alheias o seu destino. O partido que terá de por de pé de novo a economia, estou certo que será o das empresas e de seus trabalhadores. Depois dos que agora lutam na primeira linha a salvar vidas, esses serão os derradeiros heróis. Haja a capacidade de perceber isso para que esta não seja mais uma oportunidade perdida.
André Silveira
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