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  • Foto do escritorAndré Silveira

As Pessoas da SATA

A SATA não é apenas um exemplo de antologia de como a gestão pública, num mercado aberto em livre concorrência, tem invariavelmente o mesmo desfecho. A SATA é também todas as pessoas que lá trabalham, e muito pouco se tem falado sobre eles a não ser para os atacar. Eles que são os mais directos interessados na resolução das graves dificuldades financeiras que a companhia atravessa há anos.

As pessoas são exatamente isso, são famílias que subsistem do seu trabalho. A aérea regional é um dos maiores empregadores dos Açores, e as pessoas são o administrativo, são o piloto ou são o mecânico, e durante muito tempo muitos também o queriam ser. Bons vencimentos e boas regalias tornaram trabalhar na SATA algo de desejável, e o foi para os trabalhadores e muito mais ainda para os administradores, "boys" e afins. Mas essa é outra história. A história de como administrações sucessivas, pagas principescamente, levaram paulatinamente a companhia à auto destruição com a benção do governo regional e com os votos dos Açorianos.


Os trabalhadores da SATA, no geral, não têm muito boa opinião pública e tal deve-se essencialmente ao papel dos sindicatos, muito em particular às greves. Fazer uma greve em plenas festas do Senhor foi um erro de relações públicas fatal. Por mais que houvesse legitimidade nas reivindicações a escolha da data apenas mostrou a face radical do sindicalismos em Portugal, não resolveu nada como se pode constatar hoje e destruiu por completo a imagem dos trabalhadores.


Todos nós sabemos quem são os trabalhadores da SATA, são os nossos amigos e familiares. Quem não tem um amigo ou familiar a trabalhar na SATA? São bons profissionais? No geral são! São bons profissionais e resilientes. Caso contrário, certamente a debandada já teria começado. Uns não terão acesso às mesmas condições e regalias em outras empresas, mas muitos fazem parte de grupos onde existe carência de quadros no mercado de trabalho.


A imagem negativa dos trabalhadores da SATA é no geral injusta. Sempre que foram pedidos sacrifícios acederam, mas temos de admitir que existem limites para aceitar tudo de um lado, e ao mesmo tempo ter de assistir à total ribaldaria do entre e sai de administrações sem nenhuma alteração fundamental. A história da sucessão de individualidades e dos planos estratégicos bonitos escritos pelos senhores das consultoras milionárias do continente é bem conhecida, e também aqui os resultados estão à vista. A humilhação de serem representados por alguém que nem sabe qual a frota que gere, facto que todo e qualquer trabalhador da SATA sabe, não é certamente fácil de digerir. Convenhamos que não deve ser fácil ter de aturar tudo isto, muito menos agora em que é evidente a necessidade de emagrecimento da empresa.


A bem da verdade, quase tudo o que, ao longo dos anos, a comissão de trabalhadores e os sindicatos alertaram para acabou mesmo por acontecer. Foi a própria CT que inúmeras vezes se insurgiu contra os perigos do amadorismo na gestão da empresa, e para a perversidade da ingerência nos destinos da companhia por parte do governo. O problema, foi sempre juntarem esses legítimos receios com outras reivindicações que invariavelmente incluíram aumentos e mais regalias, e isso não ajudou em nada à má imagem.


É mais do que justo afirmar que, antes de qualquer resgate inevitável, vai ser necessário ter em conta as vidas dos trabalhadores da SATA, e é justíssimo dizer que, na sua grande generalidade, trabalham na SATA bons profissionais. Por outro lado, pedir mais sacrifícios a esses será muito difícil sem uma mudança clara de gestão, mais do que isso, uma mudança clara de modelo de sistema de transportes aéreos nos Açores, e certamente tal não irá acontecer com esta governação que há mais de 20 anos foi delapidando o Valor de aérea regional.

André Silveira




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