top of page
Buscar
  • Foto do escritorAndré Silveira

Atractividade Turística ou “Ensaio Sobre a Cegueira”

A razão do turismo não crescer na Terceira, ao contrário de praticamente todas as ilhas, é a falta da atractividade. Já escrevi isto umas cem vezes e vou continuar a escrever, apesar de já estar a contar com as habituais acusações cegas, que basta dizer a palavra Terceira, saltam logo. Desta vez porém, vou-me dar ao trabalho inglório de desenvolver o assunto. Eu sei que é inglório mas eu gosto de causas perdidas.

A atractividade de um destino é a capacidade de atrair turistas em relação a outros destinos seus concorrentes. Ora os Açores, como outros destinos insulares são compostos por vários destinos secundários concorrentes, que no nosso caso são as próprias ilhas. Existem outros locais onde até cada ilha tem localizações que competem entre si. Quando digo competem refiro-me a que o turista pode optar entre esses destinos secundários. E não há nada que se possa a fazer acerca disto dado que um dado turista não pode estar em dois lados ao mesmo tempo. Pode ser minorado. Por exemplo com a criação de pacotes com circuitos comercializáveis que incluam mais ilhas, mais isso depende muito das acessibilidades que nos Açores são o que sabe. Por exemplo, como se podem vender pacotes integrando transportes através de via marítima quando os horários são disponibilizados a poucos meses do início da operação? Ou pior, quando os barcos atrasam o início da operação destruindo a credibilidade dessa via como possibilidade?


Nos Açores, na minha opinião existem os seguintes circuitos ou destinos secundários instituídos. São Miguel, que pode incluir Santa Maria, A Terceira, o Grupo Central e o Grupo Ocidental. Esta organização tem muita a ver com a acessibilidade e modo de deslocação dentro deles. Neste panorama, existem duas ilhas em grande desvantagem. A Graciosa porque está fora do circuito do Triângulo, é pequena, com acessibilidade mais difícil sem, acesso directo ao exterior e sem acesso rápido regular por mar durante boa parte do ano. E a outra ilha é a Terceira porque a sua oferta está mal estruturada e tem menos factores atractivos endógenos. E isto não é defeito, é feitio, mas é um facto. O turista quando avalia as suas opções entre vários destinos faz pesar as suas âncoras de atractividade entre outras coisas. Ora, entre São Miguel e Terceira, normalmente numa primeira visita pesa para São Miguel. Nada mais natural. Entre o Triângulo e a Terceira, temos o Pico com cada vez mais mística e a possibilidade de facilmente visitar 3 ilhas, e portanto, normalmente pesará para o Triângulo. Resta o grupo Ocidental que ainda não tem serviço adequado mas que tem crescido muito. As Flores são a ilha mais bonita dos Açores na minha opinião, e o Corvo é um local singular onde só por isso as pessoas querem lá ir. 


O que é que tem a Terceira para combater isto? Tem muitas coisas, mas totalmente embrulhadas em termos de oferta. Resultado disso, ninguém sabe muito bem. Aliás, os próprios Açorianos olham para a Terceira para as festas e pouco mais. Muito por culpa da promoção do turismo dos Açores que sempre foi uma desgraça, e muito por culpa dos próprios Terceirenses, que por gostarem muito da sua terra, e bem, vivem numa cegueira completa e não entendem que aquilo que gostam na sua terra não tem de ser necessariamente o que os turistas gostam. Obviamente que, por exemplo, as touradas são um excelente exemplo disso. Pior, evidenciando-se que a estratégia não corre bem, insistem no erro apoiados por todas as forças políticas.

No entanto, a Terceira tem maneira de resolver isto. Mas primeiro tem de o admitir. E antecipando o rasgar de vestes e as acusações habituais seguem algumas sugestões:

Se assumirem que a Terceira poderá ser um destino natural numa segunda ou terceira visita aos Açores, porque não promover o destino junto desses turistas nas suas primeiras e segundas visitas. Porque é que não há uma casa da Terceira em São Miguel a fazer essa promoção?

Angra património Mundial é um factor de atracção incontornável. É necessário um museu de classe mundial para projectar a sua atractividade. Fazer um museu com um projecto de elevada qualidade como fizeram no caso do MAAT em Lisboa, pode ser uma boa opção.

Classificar a Terceira como destino gastronómico é outra opção. Definir rotas gastronómicas e apoiar a criação de projectos gastronómicos de alto nível. Juntar a isso o vinho da Terceira.

E por último as festas como complemento. 

E não dispersar mais do que isso. Porque em paisagem, mar, natureza perdem para os concorrentes. Mas isto só se faz com os organismos públicos alinhados e com a própria sociedade da ilha alinhada. Coisa que está longe de acontecer. 

A Terceira tem a segunda melhor acessibilidade dos Açores. Não é por falta de acessibilidade que o turismo não cresce. Até porque exemplos recentes mostraram que praticamente temos de pagar a turistas para encher aviões para a Terceira. Insistir na Aerogare, e em mais voos e mais não sei o quê, é chover no molhado e invariavelmente irá resultar no mesmo crescimento anémico, no máximo.

Pronto, agora podem colocar as acusações do costume. Para vos poupar um bocado ao habitual: Sim conheço a Terceira onde já estive dezenas de vezes e onde já trabalhei e passei férias, tal e qual como em todas as restantes ilhas dos Açores. Sim, sou um turista experiente há muitos anos, mais de vinte, em destinos muito variados por esse mundo fora. E sim, estudo o sector por achar que é estratégico para os Açores.


André Silveira

240 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page