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Como se mata um partido

  • Foto do escritor: André Silveira
    André Silveira
  • 9 de jun. de 2019
  • 2 min de leitura

Um partido mata-se tornando-o mais restrito e menos abrangente. Um partido mata-se olhando para o seu umbigo esquecendo que deve representar pessoas em proporção. Quando um partido escolhe o interesse de poucos em detrimento de muitos, está a tentar cometer suicídio político.

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Ora vejamos os exemplos dos Açores. Os partidos que se assumiram como representantes de ilhas, ou grupos de ilhas, ou pior, contra ilhas, colocando assuntos locais à frente do interesse da larga maioria da sua base eleitoral natural, viram a sua dimensão reduzida. É o caso do CDS por exemplo. A CDU, não por opção própria, mas porque os resultados eleitorais assim o ditaram, deixou de ter representante na ALRA da ilha maior e perspectiva-se o seu quase desaparecimento nos Açores.


A receita é simples: centrar-se em interesses cada vez mais restritos resulta em representação cada vez mais restrita. É simplesmente a lei natural das coisas. Se a maioria da população está numa determinada ilha, nada mais normal, do que esta querer sentir-se representada, e não votar naqueles que representam outros eleitores, muitas vezes contra a própria maioria. Penso que é isso a democracia, e ainda bem que assim o é.


O PS dos Açores sempre soube equilibrar a representatividade. A escolha do sucessor de Carlos César é exemplo evidente disso. Vasco Cordeiro foi a escolha conveniente longe de ser o homem que mais suporte político granjeava à altura. Certamente Sérgio Ávila seria um nome politicamente mais forte, mas não representava a base eleitoral da maior ilha.


Defender os interesses mais próximos de cada ilha, cidade, vila ou rua é o mais natural do mundo, e é essa a função básica da política. No entanto, quando a maioria se torna refém do pequeno poder das minorias, temos um problema de equilíbrio democrático. Qualquer partido que ceda a essa tentação, muitas vezes populista e pautada por tacticismo básico, corre o risco de se tornar cada vez menos representativo.


Há uma razão para a constituição portuguesa não permitir os partidos regionais. Goste-se ou não, a ideia foi garantir que o sistema partidário português fosso composto por movimentos verdadeiramente nacionais e abrangentes. Embora acredite que se devesse ter aberto excepções para as regiões autónomas, dada a sua especificidade, esse principio faz todo o sentido, e obriga o próprios partidos a terem uma dimensão nacional e o mais abrangente possível.


André Silveira



 
 
 

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