É fascinante ver como ainda há quem não tenha interiorizado que o panorama político nos Açores mudou de facto. Chega a ter alguma piada ver, até alguma comunicação social, referirem-se à corte como se o ainda fosse, ou os deslizes de alguma ex oposição referindo-se à oposição com se ainda não fosse. Agradeço ao Maradona por me permitir viver tudo isto. Obrigado Senhor!
Igualmente desconcertante é perceber que verdadeiramente quem agora governa está convencido que terá uma oposição como aquela que fez durante 24 anos. Não vai acontecer assim, até porque quem agora se opõe viveu sempre como governo, e usará das mesmas tácticas que sempre usou para se defender da oposição.
O incidente que levou o Sr. Secretário Joaquim Silva dar um valente puxão de orelhas ao Sr. Deputado Sérgio Ávila (tomou posse?), é bem revelador de que estar muito tempo com o poder quase pleno nas mãos, tolda as próprias pessoas. Sérgio Ávila nem percebeu muito bem o que lhe estava a acontecer, habituado a fazer basicamente tudo o que quisesse durante décadas, sem que houvesse alguém que se atrevesse a censurar uma qualquer falta a uma reunião. Ora, isso mudou. Pior foi a justificação dada, que como muitas que deu ao longo do seu reinado, foi um insulto ao Açoriano inteligente. Certamente estará neste momento no processo de tomada de consciência do ridículo a que se submeteu, revelador, no entanto.
Já na saúde o todos poderoso e pouco respeitador do estado de direito, "não tenho ambições políticas", aproveitou a oportunidade para uma tentativa de check político forçando a sua saída criando um acontecimento político. Excelente jogada para quem não tem ambições políticas mas que é ainda um "politicozinho". Não lhe correu bem. A pressa afinal era só para dia 8 de Dezembro, e apenas teria de ter esperado menos de uma semana. Para quem andou a dizer que nada havia de mais importante do que a saúde dos Açorianos, ficou-lhe mal a birra. Saiu pela porta pequena, a mesma por onde passaram todos os atropelas à constituição e às liberdade fundamentais de cidadãos da república portuguesa. Apesar de um muito pequeno grupo de religiosos fanáticos ainda resistirem, mostrou o que os mais atentos sempre alertaram para.
Vasco Cordeiro não perdeu o ar sobranceiro que sempre mostrou no parlamento como governador máximo. Certamente continuará a refletir sobre o que lhe aconteceu e talvez perceba que foi a sua teimosia que o levou agora para a bancada oposta. Aliás, pelo menos até agora, o PS não aprendeu a lição, óbvio que é muito cedo, mas os sinais são evidentes. O PS acha que vai conseguir voltar ao poder usando a receita que levou a perde-lo. É uma estratégia. Acha sinceramente que em muito pouco tempo este acordo entre as direitas irá azedar, e que o poder lhes vai cair no colo. Eu também pensei isso em 2015... Não comecem já a higienização política interna, que nem daqui a 20 anos voltam a por-se de pé. Os Açores agradecem.
André Silveira
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