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  • Foto do escritorAndré Silveira

O ópio dos açorianos

No feudalismo de São Miguel (talvez até ao fim da Segunda Guerra Mundial) são quase todos servos. No salazarismo tardio a oposição política(com raríssimas excepções) seria “dos continentais”. Os locais? Quase tudo “salazarista”, pobres, explorados por meia dúzia de famílias e esperando o sonho da emigração. E chegou Abril e o governo próprio. A Autonomia tem vários problemas desde o início. É artificial(invenção do senhor dr. João Bosco) e sem recursos próprios. No entanto é resposta civilizada à “descolonização” de Mário Soares e Melo Antunes. Mas tem origem moral na pobreza de São Miguel.

Em 1975 as diferenças entre as ilhas seriam “mais profundas” do que com a maioria das regiões do continente. A miséria em São Miguel “definia”, erradamente, os Açores. Ainda em 1975, o New York Times, era lido no próprio dia no aeroporto de Santa Maria e em São Miguel, muitas famílias, nas Sete Cidades, iriam à despedida do ente querido que partia para a cidade de camioneta. Muitas raparigas da ilha de Antero, aos catorze anos, já tinham filhos, abortos em vão de escada mas davam boas criadas (empregadas domésticas na linguagem de hoje). Até nas Bermudas. Miséria para exportar. Numa loja de Vila do Porto, que vendia farinha e rações para animais, discutia-se a crítica teatral da Broadway e a “violência” do “burguês “Jean-Paul Sartre na influência a Samuel Beckett. Criticar Deleuze no Café Mascote, em Santa Maria, seria banalidade. A fome, em São Miguel, fazia parte do roteiro do turismo sexual. A “evolução” da Autonomia? Muitos gostam das coisas “de graça”. Do favor. Estranho capitalismo de Estado. Acham que têm direito a tudo sem esforço. Com os anos aceitam a grosseira incompetência do governo regional, políticos profissionais e a pobreza como fatalidade. Um médico abusou de crianças e continuou a trabalhar no sistema público de saúde. De geração em geração. Poderia ser pior, dizia um pai, em Rabo de Peixe, com a alcunha de “o campeão”(teria entre 18 a 21 filhos?). O ópio dos açorianos? Quando abriu a primeira casa de “striptease”, na ilha do Arcanjo, um homem gritou para uma mulher, na Rua Machado dos Santos, em Ponta Delgada: “Já te vi nua, querida!” O ópio dos açorianos, repito? É a complacência com a tradição da miséria cultural em São Miguel.


Foto. Pesquisa Google. Green Island, anos cinquenta?

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