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  • Foto do escritorAndré Silveira

Os partidos partidos

Acredito na democracia representativa tendo como base os partidos. A constituição portuguesa define como organização fundamental da representação dos cidadãos os partidos e nem sequer permite, por exemplo, que movimentos de cidadãos, ou mesmo cidadãos individualmente se candidatem a eleições legislativas. Embora isso em pleno Séc. XXI não faça muito sentido, continuo a acreditar que a solução está nos partidos. Acredito até que, apesar da grave crise de credibilidade que atravessam, a solução está nos que temos. Portugal é realmente um país de brandos costumes. Em 74 conseguimos fazer a revolução mais pacífica da humanidade, e agora, perante o saque do estado e da democracia, não optámos por partidos diferentes. Acredito que se essa tendência se verificasse já teria acontecido. Simplesmente deixámos de votar em vez de penalizar o sistema votando nos novos movimentos como aconteceu por exemplo em Espanha. Assim sendo, diz-me o bom senso que os que cá estão, estão para ficar. Exceção seja feita ao PAN, que é algo de novo, mas que acredito não ter vindo para ficar, apesar de muito provavelmente passar a ter um grupo parlamentar na nova constituição da Assembleia da República, e quem sabe, até no parlamento regional em 2020.

Paradoxalmente os partidos tornaram-se organizações pouco ou nada democráticas. Basta olharmos para o processo de constituição de listas, e como os militantes não têm qualquer voto na matéria. Percebe-se bem porquê. Na verdade, a distribuição dos lugares, diretos e indiretos, tornou-se no principal objetivo dos partidos e, à parte de raras exceções de uns poucos resistentes que não vivem nem querem viver da política, no final o que prevalece é o interesse pessoal. Esse desígnio tem diversas variantes de acordo com o partido em causa e a respetiva perspetiva de ser ou não poder, ou da dimensão do lugar em poder e quantidade. Os empregos são diversos, e existe mesmo uma classe parasitária que infecta os aparelhos partidários que se alimenta dos cargos de assessores, consultores, secretariados, entre outros. É uma classe interessante e que merecia estudo sociológico. Regem-se ao sabor de uma espécie de lealdade para com quem tiver mais probabilidade de os manter no seu lugar ou, melhor, leva-los consigo para outros voos. Os há em todos os partidos.


Talvez tenha de aceitar que um partido por definição restringe a liberdade de pensamento. Optar por militar é o assumir de uma ideologia (coisa em desuso). No entanto, os partidos não são organizações que gostem de pensamento livre, muito menos de opiniões contrárias ao status quo. Há que manter o sistema, muitas vezes a todo o custo. Afinal de contas o que está em causa é a vida profissional deste ou daquele. A criação de uma geração de políticos profissionais, muitas vezes gerados já nas juventudes partidárias, é um dos cancros internos dos partidos, que permeia a mediocridade ou pior. O resultado é cada vez mais ficarmos todos em casa nos dias de ir votar. O Povo não se reconhece em nada disso, e é só olhar para os números da abstenção para vermos como as organizações basilares da democracia representativa estão decadentes.


André Silveira


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