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  • Foto do escritorAndré Silveira

Quanto, como e quem.

De novo a SATA! Alguém me disse há dias que o problema SATA está hoje para o governo socialista dos Açores, como esteve o Vietnam para os governos dos EUA nas décadas de 60 e 70. À parte do exagero, realmente este deverá ser o “Vietnam” de Vasco Cordeiro. O atraso no pagamento de vencimentos na companhia aérea Açoriana no passado mês, em conjunto com a revelação das contas do segundo trimestre de 2019, apenas confirmam que o estado é de emergência financeira e que urge a tomada de medidas. Medidas essas que são óbvias para qualquer um que esteja minimamente informado, mas que, por serem altamente impopulares, este governo adiou ao longo de anos ao sabor de calendários eleitorais e de interesses que cercam todo este assunto.


O diagnóstico é o mais fácil de se fazer de tão óbvio que é. Uma companhia aérea muito pequena que se colocou “fora de pé” num mercado dos mais difíceis de mundo e repleto de gigantes, ao mesmo tempo que foi gerida por humores (interesses e conveniências) políticos e muitas vezes com amadorismo para não dizer pior. A falta de coragem e visão política criaram o problema SATA, e do mesmo modo impedem a sua resolução levando a questão aos limites, pondo mesmo em causa o rendimento de famílias de colaboradores, já para não falar de fornecedores, que com muita dificuldade lutam pela sobrevivência financeira ao mesmo tempo que desesperam com prazos de recebimento impossíveis. Ao mesmo tempo, a degradação do serviço leva a que se coloque em causa até mesmo o principal motivo da sua existência: servir os Açores e os Açorianos. Com todas estas dificuldades a aérea regional não tem a menor condição de ser o instrumento estratégico que deveria ser. Um caso de estudo de como o estado não sabe, nem deve gerir empresas que operam no mercado livre concorrencial. O que a história mostra é que invariavelmente no final os prejuízos globais superam os supostos benefícios, políticos ou não.

A resolução da questão SATA, embora seja óbvia (mas muito cara), implica antes de mais a adequação do modelo de negócio ao presente e à realidade, e o presente não é o mais auspicioso para a aviação no geral. Embora este ano se tenha batido o record de voos e passageiros no ar num único dia, o panorama é de competitividade feroz e escassez de recursos. A saber, faltam aviões e faltam pilotos a toda a indústria. A poderosa Ryanair aponta essa a maior razão pela sua fraca performance financeira nos últimos meses. Foram várias as companhias aéreas que se apresentaram a insolvência nos últimos meses. Isso tudo numa conjuntura de juros baixos e crescimento. Só podemos supor o que seria num cenário de recessão e juros crescentes.


Mesmo com um modelo de negócio adequado, será necessário sanear financeiramente a empresa, sendo que a dívida está toda assumida na SATA Air Açores, e que essa é consensualmente assumida como inegociável no que diz respeito a uma potencial privatização. Seria algo muito inesperado, até estranho, o surgimento de um privado com disponibilidade de injetar capital dadas as circunstâncias. Nesse cenário há apenas uma maneira de refinanciar: pagam os contribuintes. Pagamos todos nós pelas opções dos que elegemos. Nada mais justo. Quem não votou neles que atire a primeira pedra. Pensem melhor da próxima vez. Os que nem votar vão, paguem sem contestação. Votem da próxima vez.


A pergunta que se deve colocar neste momento é saber quanto vão custar aos contribuintes, agora e no futuro, os desaires que o governo socialista (em nosso nome) terá de assumir após liderar os destinos da empresa há quase um quarto de século. Saber quanto será um primeiro passo. O seguinte será saber como, porque quem já todos sabemos.


André Silveira

Publicado no Jornal do Pico a 18-10-2019

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