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Sustentabilidade Insustentável

  • Foto do escritor: André Silveira
    André Silveira
  • 13 de dez. de 2019
  • 3 min de leitura

Uma agência que ninguém conhece, certamente a troco de bom dinheiro dos contribuintes, certificou o destino Açores como sustentável. Per si não é algo mau, aliás bem pelo contrário. Tudo o que se fizer no sentido de sermos verdadeiramente uma região ambientalmente sustentável é positivo, mas o modo provinciano e descarado como isso foi aproveitado para a propaganda dos do costume, além de irresponsável, demonstra muito bem a linha de ação deste governo: fazer o menos possível, mas propagandear com toda a força. E na semana passada o que não faltaram foram exemplos da (falta de) vontade de se fazer o quer que seja no sentido de uma verdadeira sustentabilidade nos Açores.

O selo

Se por um lado ter uma certificação, mesmo que duvidosa, é algo positivo, por outro insistir na imagem de sermos uma região intocada e sustentável é enganar quem nos visita, mas bem pior, enganarmo-nos a nós próprios. Os Açores, embora com diferenças significativas entre ilhas, estão cobertos por uma área inaceitável de pasto com produção ultra intensiva e carregado de químicos. Químicos esses que destruíram as nossas lagoas e que acabam inevitavelmente no mar. Resta-nos apenas alguma área de floresta endémica, e estamos repletos ide imensas espécies invasoras de fauna e flora. No mar, pescamos quase sem qualquer limitação e estamos em situação crítica em quase todas as costas das nossas ilhas. Não sabemos muito bem o que fazer aos resíduos depois de mais de 10 anos a brincar às incineradoras. Portanto, estamos imensamente longe de ser uma "região sustentável". A maior vergonha é que nos últimos vinte anos pouco ou nada se fez em relação a nenhum dos pontos acima, com a exceção dos projetos Live que recuperaram habitats do priolo – excelente exemplo do que se deveria estar a fazer em larga escala.

Queimar tudo

A AMISM comunicou a semana passada que irá insistir na construção de uma incineradora em São Miguel, isto apesar do processo muito duvidoso que levou à anulação do anterior concurso. Num assunto em que aparentemente a opinião pública é quase unânime, insistir numa solução cuja a base de sustentabilidade técnica é cada vez menor, é uma tremenda asneira. Pior que isso é a imagem que passa. Imagem de que, mais do que a solução em si, há uma vontade “unânime” e inexplicável para que se construa este equipamento contra tudo e contra todos, contra até o bom senso. Não se entende a fundamentação de agora proporem um equipamento com capacidade 30% menor, quando há poucas semanas atrás a soluções gigante (e caríssima) é que era. A AMISM não tem qualquer credibilidade para defender qualquer solução, muito menos com os argumentos truncados que apresentou em sede própria a semana passada. Todo este processo cheira mal e merece um escrutínio muito maior.

Os Açores são ilhas e, se querem ser realmente sustentáveis, vão ter de abordar a questão dos resíduos de uma forma séria e inovadora. Não temos de ter medo de investir em inovação e liderar na Europa pelos exemplos. Adotar soluções que caminham para serem obsoletas não é a melhor via, e se virmos em termos de imagem, perdemos em toda a linha. Temos de almejar mais e melhor.

A pesca: insistir no mesmo esperando resultados diferentes

A pesca tem sido o parente pobre dos mais de vinte anos de governação socialista nos Açores. A sucessão de governos pouco ou nada tem trazido ao sector que lentamente agoniza como consequência da total ausência de políticas que protejam e valorizem as comunidades de pescadores, e restante fileira. A solução tem sido atirar com RSI para cima das populações mais desprotegias e pobres da região, ao invés de se assumir corajosamente uma política de valorização e de verdadeira sustentabilidade. O estado atual era absolutamente expectável: crime ambiental e profunda crise social. A pesca para poder ser uma atividade com interesse no futuro dos Açores, terá de ser completamente repensada pela base. Este governo, apesar de o saber, e de até o ter escrito em um relatório de interesse regional em 2012(??), optou por nada fazer. Resultados à vista. Mas a responsabilidade é transversal a todos os espectros políticos, começando pelos próprios pescadores que são sempre os primeiros a oporem-se a qualquer medida de proteção. A semana passada foi bom exemplo disso com as reações ao anúncio da interdição parcial de pesca em alguns bancos. Da esquerda á direita, foi uma esquizofrenia política total. A esquerda é pelo ambiente, mas os votos dos pescadores são lhe preciosos. A direita é pela economia, mas paradoxalmente tem uma base eleitoral grande junto dos pescadores.

É o que há.

André Silveira



 
 
 

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