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  • Foto do escritorAndré Silveira

Turismo sim, mas...

Atualizado: 11 de ago. de 2019

Em poucos anos vai duplicar o número de turistas que visitam os Açores. Um feito incrível, sendo uma das regiões do mundo com mais forte crescimento. Os mais atentos dirão que não estarão nada surpreendidos, afinal de contas foi claro o atraso em que se manteve artificialmente o sector durante muito tempo. O protecionismo em volta da companhia aérea dos Açores manteve refém todo um sector à custa de proteger uma única empresa e os interesses à sua volta. Criminoso quase, diria. Mas essa é outra história.

O facto é que, com a liberalização (forçada) do espaço aéreo regional, o turismo explodiu e tem apresentado um crescimento absolutamente excepcional em praticamente todas as ilhas com forte impacto económico.

Facto é também que não houve qualquer preparação da região para esse "bum". Os planos estratégicos do costume, e à boa maneira dos dos costume, foram todos feitos à postriori do arranque, e como se sabe o que não faltou foi tempo para preparar o sector de forma pensada e estruturada.


O turismo é uma indústria com enorme efeito positivo, mas que também traz forte pressão nos recursos, principalmente em ilhas frágeis como as nossas, e que causa forte impacto nas infra-estruturas. Ambas as situações deveriam ter sido acauteladas. Por um lado, defender e preservar a natureza, paisagem e cultura (e "o modo de vida") das nossas ilhas deveria ter sido planeado, e deveriam ter sido estudadas as capacidades de carga de cada local, de forma a criarem-se mecanismos de gestão. Nada, ou quase nada, foi feito.

Do mesmo modo, ao nível dos serviços de hotelaria e restauração, e apesar de haver formação profissional na área há pelo menos 30 anos na região, é transversal a falta de mão de obra, muito em especial a qualificada no sector.


O resultado é que se começa a sentir a fricção entre o pacato modo de vida insular e uma indústria que muitas vezes pode se comportar como um rolo compressor, que sem regulamentação e ordenamento tende a levar tudo à frente. O mercado quer-se livre com o mínimo de intervenção do estado na economia. No entanto, o principal ponto negativo de um capitalismo selvagem é frequentemente não deixar nada de pé. Ao longo da história os exemplos disso são inúmeros, e por isso, é fundamental uma função de planeamento e regulamentação básica por parte dos governos. Tal não existe nos Açores, pelo menos de um modo integrado, pensado e com visão de médio longo prazo. Tudo é mais ou menos avulso.


Os Açores não estão preparados para a continuação do crescimento do turismo. Pior, nada se está a fazer para que estejam. À parte da iniciativa privada que tem sido a base do sucesso dos últimos anos, não se vislumbra qualquer planeamento sério, e menos ainda execução. Os planos estratégicos do costume ou são infantis, ou não saem do papel. O principal desafio de construir infra-estruturas, por exemplo, demora anos. O que quer dizer que, mesmo que se começasse agora, já seria tarde. O risco que corremos é que nos próximos anos assistamos a um forte degradar da qualidade devido a falta de capacidade. Em algumas ilhas isso já é evidente. Mas vai piorar.


O crescimento do sector na Região como um dos pilares da economia é uma necessidade crítica dada a falta de alternativa, no entanto não pode ser feito a qualquer custo. Se por um lado é de aplaudir o aumento do investimento externo e do próprio número de turistas, por outro é urgente começar-se a definir como, quando e quanto queremos que esta seja cada vez mais a base da nossa independência financeira. Os Açores são por de definição um destino de grande Valor acrescentado, não podemos deixar que se venda a região como um destino de baixo custo, mas para isso não basta querer e dizer. É crítico que se demonstre a quem nos visita.


André Silveira Publicado no Jornal do Pico em 9-8-2019



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